A história do doce de leite
Ir à Argentina e não provar o doce de leite regional pode ser para a população local um sacrilégio semelhante a um católico ir a Roma e não visitar o Vaticano. Ainda assim, a origem da mistura de leite, açúcar cristal e bicarbonato de sódio em alguns casos, popularizada a partir de 1908 em alfajores e coberturas de bolo argentinos, é pleiteada também pelos “rivais culinários” Brasil e Uruguai. Na história dos hipotéticos inventores do famoso doce de leite, até Espanha, Portugal e Chile arvoram para si o título de criadores da iguaria.
A fixação dos sul-americanos pela fabricação do doce – que tem minúcias ao ponto de se observar, no preparo, a redução de acidez de 17 para 13 graus Dornic (unidade de medida para a acidez do leite) – chegou ao ponto de transformar a sobremesa em protagonista de um regulamento técnico do Mercosul, o grupo de países que inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Assinado em 1996, o documento estipula critérios para a fabricação do verdadeiro doce de leite, classifica o produto em subdivisões – com ou sem frutas secas, misturado ou não a chocolate – e dá o veredicto: doce de leite que se preze tem de ser “castanho caramelado”, nem muito claro como alguns produzidos em Minas Gerais, nem muito escuro, como quando argentinos erram a mão em colheradas a mais de bicarbonato de sódio.
Independentemente da disputa pelo hoje famoso doce – se argentino, uruguaio ou brasileiro – o regulamento do Mercosul esclarece: a iguaria, para se manter de alta qualidade, precisa apenas de leite (até leite em pó é autorizado pela legislação) e açúcar em proporção máxima de 3 kg a cada dez litros de leite. Os segredos culinários de cada povo para produzir cada um o seu melhor doce, esses sim estão guardados e não há lei que os faça revelá-los.
Fonte: terra.com.br