A empadinha é o triunfo da arquitetura culinária.
Ao olhar para aquele pacotinho de sabor a gente fica na pergunta: quebra ou não quebra? Vai esfarelar? E se desmanchar? A massa da boa empadinha precisa ser delicada para não pesar, mas firme o suficiente para comportar em seu interior o recheio abundante, cremoso.
De tão onipresente, parece que sempre esteve por aqui. No entanto, ela tem inconfundível sotaque português. É herdeira do pastelão, torta de origem lusa com recheios vários. Mas o hábito de encerrar uma mistura suculenta entre paredes de massa não é invenção de Portugal. Os franceses deram uma importante contribuição nesse assunto com sua pâte brisée, conhecida por aqui como massa podre, à base de trigo e algum tipo de gordura. Os ingleses, com grande tradição nas enformadas, orgulham-se de suas tortas salgadas (algumas delas lembram, no formato, uma empada), recheadas com carnes, peixes e hortaliças.
Voltando mais no tempo: na Idade Média, massas mais gordurosas era utilizadas em várias partes do mundo para preservar os preparados de carne durante vários dias. Era um método de conservação. Harold McGee, no livro Comida & Cozinha, explica que a massa formava uma crosta espessa, capaz de proteger a carne dos microorganismos presentes no ar e preservá-la por alguns dias, um luxo na época pré-refrigeração. Há registros até mesmo de que egípcios e romanos utilizavam métodos similares para prolongar a durabilidade de seus alimentos na Antiguidade.
A empadinha segue grandiosa entre os aficionados que só vêm nela um único problema: a impossibilidade de comer uma só. E como se fosse necessário justificar a gula, a irreverência nacional encontrou um vilão insuspeito para quem exagerar: sempre dá para culpar a azeitona.
Fonte: https://revistacasaejardim.globo.com