Como não comer esta iguaria acompanhada das frutas e das carnes no Natal?

Fácil constatar que se trata de um prato típico português – em virtude da quantidade de ovos que a receita pressupõe -, e que nasceu dentro dos conventos e monastérios de Portugal. A doçaria conventual, por sinal, teve origem no século XV. A título de curiosidade, esclareço que, neste período, o principal adoçante, na realidade, era o mel; sendo que o açúcar só recebeu especial atenção com o cultivo da cana-de-açúcar, após a colonização da Ilha da Madeira. A lista de doces conventuais é extremamente extensa (abrangendo todas as regiões de Portugal), e devemos salientar, ainda, que a confecção de um determinado doce pode variar conforme a região ou mesmo o convento de origem. Um baita trabalho de catalogação para os historiadores, obviamente.

Acho fascinante o seu modo de preparo e cozedura: com o auxílio de um funil apropriado, despejam-se as gemas de ovos na água quente com açúcar e, após este “choque” de cozimento, uma espumadeira pesca esses lindos e dourados cachos que mais parecem ter saído da cabeça de uma criança (mas também se assemelham a um chumaço de macarrão instantâneo, não é?). Soube, também, que o doce já teve alguns outros nomes antes de se estabelecer como fio de ovos, como: “ovos em fio”, “ovos de fio”, “ovos reais”, “ovos de aletria” ou “aletria de ovos”.

Notável, no entanto, é que, ao longo dos anos, se desenvolveu como doçaria autônoma e se expandiu para, primeiramente, complementar outros doces e salgados. Ao que se sabe, os fios de ovos surgem como elemento de enfeite ou guarnição de pratos salgados a partir do século XVII. Não podemos esquecer que, além disso, havia, na época, uma moda ou apreço por composições agridoces (que particularmente adoro). Há registros de fios de ovos guarnecendo galinhas, carneiros, pombos, frangos e cabritos, para se ter uma ideia.

Segundo vários autores, os fios nasceram no Mosteiro de S. Bento da Ave-Maria, no Porto. Este mosteiro foi fundado em 1518, sob a tutela de D. Manuel, e era povoado por freiras beneditinas. Mas nossos queridos fios amarelos resolveram viajar pelo mundo para fixarem-se como tradição em outras paragens. No Brasil, por exemplo, ficaram tão famosos que é difícil não ver um tender enfeitado com fios de ovos nas mesas ou mesmo nas propagandas televisivas natalinas. É claro que sua beleza, cor e textura sempre chamaram a atenção, mas perceba a antiguidade desta tradição que até hoje nos acompanha – e isso, seguramente, é um bom exemplo de como a História é cíclica.

Fonte: http://valentinamag.com/